À
luz da psicanálise e da psicologia os programas
sensacionalistas, do tipo de auditório, encontram
algumas explicações para o seu sucesso e grande
audiência principalmente junto ao público de baixa
renda, que infelizmente compõe a maioria Brasileira.
Quais
são essas explicações?
Primeiro
por que o sucesso é maior entre a população de
baixa renda? Porque em geral devido a grande dificuldade
enfrentada em todos os âmbitos, existe sempre
presente a frustração; o modelo de sociedade capitalista
faz com as pessoas persigam o status e o sucesso
material e as faz acreditarem que somente os ricos
são poderosos, seguros, felizes e bem sucedidos,
causando nos mais humildes um permanente sentimento
de inferioridade frente a sociedade.
Esses
programas apresentam, via de regra, desgraças,
situações que retratam o infortúnio alheio. Os
que assistem, por comparação, sentem-se momentaneamente
superiores, ou pelo menos sentem que seu dia a
dia não é tão ruim assim, "isso não acontece só
comigo afinal".
Em
segundo lugar, esses programas mostram cenas de
violência, ao verem essas cenas expostas, segundo
a psicanálise, os expectadores através da fantasia
e da projeção podem liberar seus impulsos violentos
sem sentirem-se culpados em função da constante
vigilância do superego, que nesta hora está de
fora da situação, não é responsável pelo que acontece
e portanto o ego se exime de culpa e o id se expressa
livremente.
Em
terceiro lugar as situações retratadas são motivo
de integração das pessoas que também assistem
aos mesmos programas, seus iguais. Todos estão
a par do que acontece e tem assunto para conversar
por semanas. Pelo interesse comum as pessoas congregam-se
em grupos e sancionam seu conhecimento como lei,
protegidas por participarem de conhecimentos e
interesses comuns, com força para excluir qualquer
um que não conheça o mesmo assunto, pense como
elas ou aceite as mesmas regras.
Em
quarto lugar esses programas, pela sua linguagem
exacerbada, fanática, atraem por fugirem do ritmo
morno da vida cotidiana. As pessoas querem algo
que as excite, que mexa com as suas emoções, que
as tire do marasmo e do "tudo igual" do dia a
dia, não importando se são situações edificantes,
construtivas as transmitidas, ou o triste, o degradante
e desmoralizante.
Em
quinto lugar esses programas se sustentam não
somente através da audiência, mas por existirem
pessoas dispostas a participar, compartilhando
de sua miséria publicamente, com o risco de muitas
vezes verem perdida sua dignidade e humilhando-se
voluntariamente. Fazem isso porque por instantes
deixam de ser "Joões Ninguém" para se entregarem
a magia dos veículos de comunicação de massa que
prometem a fama, o reconhecimento e a aparição
frente a incontáveis pessoas de que agora se destacam,
quando, no caso, não é absolutamente o que ocorre.
Poderia apontar muitas razões ainda para o grande
ibope desses programas, ilusão de que estão sendo
realmente informadas sobre o que importa na vida,
distração e desvio do foco dos problemas próprios
para problemas externos que não pedem por soluções
do sujeito, sensação que sabendo o que pode acontecer
não serão elas as enganadas numa próxima vez,
etc., mas nada disso justifica o desconsolo que
sinto. Mesmo sabendo como as coisas talvez funcionem
é custoso conceber que muitos de nós ainda estejamos
nesta fase da qual só seria possível a libertação
com mais educação, condições básicas de existência,
mudança de enfoque capitalista, igualdade social,
trabalho de conscientização individual, visão
crítica, e por aí vai.
Podemos
culpar as autoridades ou a mídia em alguns desses
pontos, e isso parece facilitar as coisas, mas
outros pontos dependem só de cada um, e então
quem vai ser o culpado?
|