Edições Antigas >> Edição n° 3 >> O Passarinho

A Língua Portuguesa, como vários sabem, é uma das poucas Línguas que tem o termo "saudade", em Inglês, os termos que mais se aproximam são: miss e longing, como em "I miss you" ou "longing for you", em Castelhano existe extrãno, como em "te extrãno". "saudade" parece ser um sentimento pouco comum em outros países...

Nós brasileiros usamos "saudade" corriqueiramente, e quando falamos - Estou com "saudade", imaginamos que o outro vai compreender automaticamente a que sentimento nos referimos. Mas não é bem assim.

Como acontece com todos os termos subjetivos, àqueles que se referem a emoções, a interpretação vai depender de todo o "universo" de compreensão da outra pessoa. Não pretendo aqui discutir profundamente o que é "saudade" ou como cada pessoa interpreta o termo, mas restringir o tema a certos aspectos.

Muito se fala de "saudade" e quase sempre a associam com a dor. "saudade" doi. Outros a associam com algo negativo e outros ainda com dependência, a ponto de algumas pessoas do meio "espiritualista" repetirem constantemente a afirmação: " A "saudade" é a fome de energia do outro", como se sentir "saudade" nos tornasse vampiros energéticos. Acreditam que a partir do momento que uma pessoa se equilibra energeticamente a "saudade" do que ou quem quer que seja desaparece, deixa de existir. A "saudade" se torna desnecessária e obsoleta.

Não é assim que eu entendo. "saudade" não é dependência, nem física, muito menos energética.

Nos relacionamentos de modo geral nos "alimentamos" com energias alheias, essas energias interferem nas nossas próprias e são fator de crescimento, seja por nos despertarem alegrias que nos impulsionam para frente, seja por nos criarem obstáculos, que no esforço para sua superação, vão nos lapidando e nos direcionando à evolução.

Assim é com a "saudade", se tem algo verdadeiro na afirmação, essa parte é a parte que fala da fome. "Saudade" é fome de crescimento. "Saudade" é um veículo de motivação que nos leva ou a superar a distância para encontrarmos a pessoa que nos provoca essa "saudade" e com ela experienciarmos assuntos necessários, ou a reviver e metabolizar fatos vividos ou ainda a preenchermos nosso campo com a energia dessa pessoa ausente para nos incentivar de alguma forma (neste último caso eu imagino que mesmo na ausência de uma pessoa nós possamos recriar a qualidade da energia dela e inseri-la no nosso campo sem necessariamente a estarmos sugando energeticamente)..

Se é fome energética que seja qualitativa e consciente e não quantitativa e inconsciente como a afirmação quer nos fazer crer. Porque não queira ninguém pensar que somos auto-suficientes, que ao estarmos completos energeticamente, não precisaremos nunca mais de outras pessoas ou da qualidade da energia de outras pessoas.

O perigo dessas afirmações é o caráter dogmático que elas passam a representar, não pela afirmação em si, mas pela preguiça do ser humano que muitas vezes toma o dito pelo certo, sem questionar. Estamos todos ainda a caminho do certo. E essa é a beleza.

Claudia Boacnin