Quem
são as pessoas famosas e valorizadas hoje em dia?
Aquelas que todos conhecem, que servem de exemplos,
que são admiradas e copiadas? Em sua maioria são
atores de TV ou de filmes, vocalistas de bandas
e músicos, modelos de passarela e esportistas.
E o que tem em comum as atividades que todas essas
pessoas desempenham?
São
atividades, profissões, que visam quase sempre
entreter e divertir.
O
que é um filme ou uma novela, por exemplo?
Em
geral é um estereótipo da realidade, um produto
cujo principal intuito na maioria das vezes é
entreter.
Que
sociedade é essa que se orgulha e produz ídolos
quase sempre nos ramos da diversão e do entretenimento?
Será
que não existem pessoas em outros ramos de atividade
que mereçam a mesma glória e destaque nos meios
de comunicação de massa (TV, Jornais, Rádio) quanto
atores, músicos, esportistas e modelos?
Costuma-se
encontrar em jornais suplementos que, algumas
vezes, vêm com o subtítulo "cultura". É curioso
que, ainda que tenham este subtítulo, grande parte
de seus artigos tratem principalmente de diversão,
shows, teatro, cinema, em suma: arte; raramente
lemos boas matérias sobre escritores e sua produção
literária, ou sobre o trabalho de pessoas que
contribuem para o crescimento humano, ou matérias
de jornalistas brasileiros que acrescentem, que
auxiliem a visão crítica, que discutam moral,
ética, educação; TVs e programas "culturais" são
muito poucos, recentemente algumas rádios FM vêm
apresentando alguns "spots" que evocam a "cultura"
através da ética ou da solidariedade, mas tudo
muito incipiente ainda. Isto me faz pensar no
conceito que temos de "cultura".
Antropologicamente
falando existem 2 conceitos de "cultura". A "cultura"
com C maiúsculo que é sinônimo de Civilização
e que engloba o modo de vida Cultural de um povo
com sua forma de atribuir significados e sentidos
ao real através da arte, da religião, do direito,
da economia, da política, da língua, da educação,
da moral, dos hábitos, etc. e a "cultura" com
c minúsculo, que é a cultura do cotidiano, da
informação, do saber o que está acontecendo no
mundo, e da formação escolar (o que e quanto se
estudou).
Parece
que tendemos a usar ambos termos indiscriminadamente
e pior, a reduzir a abrangência do primeiro conceito
quando nele incluímos preponderantemente as manifestações
da arte como principais representantes da Cultura.
Não
percebemos imediatamente a correlação entre as
pessoas que valorizamos e a Cultura, mas ela está
presente em cada julgamento de valor que efetuamos,
assim como a Filosofia está por trás de cada momento
da História, com seus fatos, Ciência e Religião.
Toda
pessoa e toda atividade humana tem seu valor,
cada um contribui de uma maneira com o outro e
com a sociedade. Todos, lavadores de carro, vendedores,
místicos, varredores de rua, decoradores, pesquisadores,
padres, artistas, donas de casa, pedreiros, publicitários,
etc, etc.
Todos,
sem exceção, são importantes e exercem uma função
necessária e tem seu valor.
Portanto,
não pretendo desvalorizar por um segundo sequer
as pessoas cujas profissões servem ao entretenimento.
O mundo pode ser duro e rir, se iludir, "viajar"
sempre foi e é um ótimo remédio.
No
entanto gostaria de plantar uma sementinha de
reflexão, mudando por instantes a ótica que vê
atores, modelos, músicos, esportistas, os mais
dignos de ovações, aplausos, admiração: aqueles
que deram certo.
Eleja
o chapeiro da lanchonete seu modelo, porque ele
faz o melhor hambúrguer que você já comeu! Ou
sua mãe, porque ela é boa em tudo, desde a maneira
como arruma a cama, até o carinho que te dá todos
os dias, e os pedreiros, engenheiros e arquitetos,
sem eles você não moraria!
Gostaria
que refletíssemos a respeito do que é "cultura",
no significado que emprestamos ao termo, ou que
o jornal, rádio e TV utilizam, ou no sentido que
muitas vezes empregamos sem pensar.
Não
seria interessante enaltecermos e valorizarmos
mais pessoas? Não nos enriqueceria entendermos
e vivermos a "cultura" de uma forma mais abrangente?
Estas
palavras podem parecer irrelevantes, mas pense
que é por intermédio desses ícones (ídolos) que
nós construímos a nossa auto estima, o nosso senso
de valor próprio: a nossa idéia de termos dado
certo no mundo ou não. É também a partir da noção
que temos do que seja "cultura" que avaliamos
se estamos em dia com a nossa, se podemos sustentar
uma conversação, se somos cultos ou não, se temos
condições de acrescentar algo no mundo. São esses
mesmos parâmetros que em muitas ocasiões engolimos
sem mastigar, sem reflexão ou crítica, àqueles
que nos moldam pela vida afora. Por isso pensemos!
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