Edições Antigas >> Edição n° 4 >> Matérias >> Ciências - Smart Card - O Coringa de Plástico

Imagine ter um único cartão para pagar as suas contas, receber salário, pagar o ônibus, metrô, trem, acessar dados via internet, ter seu cadastro particular de saúde, entrar na sala de aula ou clube, fazer reserva em hotéis, locadoras de carros e aviões e muito mais... Imaginação???

Não, realidade...

Há algum tempo atrás isso era filme de ficção mas hoje isto já é realidade, existe no mercado mundial e nacional e está disponível para aplicações. Chama-se chip-card.

Também chamados de smart-cards ou cartões inteligentes, os chip-cards tem o formato físico dos cartões de débito ou crédito. A grande diferença é o fato de possuírem um microprocessador e/ou memória interna, possibilitando a execução de operações aritméticas ou simplesmente a gravação e leitura de dados, função não possível com cartões de tarja magnética, código de barras e outros. Outra grande vantagem é a possibilidade de se ter em um único cartão aplicações diferentes. Com relação às formas de comunicação física entre o cartão e a leitora temos o chip-card com contato e o sem contato (que efetiva a comunicação via rádio freqüência). Escolhe-se um ou outro dependendo da aplicação.

Para simplificar iremos usar o nome chip-card como designação para cartões com microprocessador (smart-cards) e com memória (memory cards). Hoje a maior parte dos cartões tem 8.000 bytes de memória. Imagine que um disquete comum comporta 1.400.000 bytes, mas já existem alguns cartões com 32.000 bytes e outros com mais memória vem chegando, portanto essa limitação do chip-card é passageira.

As primeiras patentes de um cartão eletrônico datam da década de 70, tendo patentes depositadas por Roland Moreno na França, Dethloff na Alemanha, Arimura no Japão e Ellingboe nos Estados Unidos. O mesmo foi implementado na década de 80 pela Bull, Schlumberger, SGS-Thomson, Gemplus e outras.

Declarada a Indústria de mais rápido crescimento na década de 90 e uma das 25 tecnologias mais importantes, hoje ela está entrando em nichos que apresentam grande crescimento. Alguns números e previsões de vendas para cartões chip-cards indicam: 1997 - 1.25 bilhões; 1998 - 1.5 bilhões; 1999 - 1.6 bilhões; 2000 - 2.0 bilhões; 2001 - 2.5 bilhões; 2002 - 3.8 bilhões.

O sistema operacional existente dentro de um cartão é parecido com o de um computador de maior porte, executando funções de controle de entrada/saída, controle de dados (memória, arquivos, diretórios, objetos), funções de segurança (algoritmos, geração e gerenciamento de chaves), verificação de senha e controle de dinheiro eletrônico. Mas pela área de memória disponível no cartão o sistema operacional é bem menor e com menores opções de comandos.

Aplicações de Chip-Card no Mundo - Existem centenas de pilotos de vários tipos de aplicações no mundo. Algumas dessas aplicações envolvem desde simples controle de acesso até dinheiro eletrônico:

Internet - Hoje a Internet já é um dos meios de transferência de informações mais utilizadas, rápidas e baratas que existe mas, ainda é um meio inseguro de transferir estas mesmas informações.

Uma aplicação para o chip-card é garantir que quem está comprando e/ou pagando realmente é verdadeira. A maneira que algumas empresas estão usando é ter um cartão chip-card inteligente no lado do usuário e este cartão ser o validador da operação, algumas vezes associado a outros meios de proteção como senhas ou informações biométricas.

Saúde - As aplicações na área de saúde são as que apresentam maiores volumes de cartões visto que quando adotadas pelos países toda a população recebe o seu cartão.

As aplicações internacionais que mais se destacam são:

Alemanha: o governo alemão, através de uma lei, foi o primeiro do mundo em 1994 a implantar um projeto de chip-card para saúde. Existem no cartão dados como: emergência, farmacêuticos, dentários, acompanhamento de câncer, diabetes. Estes dados são capturados pela leitora do médico e com isto ele recebe o reembolso do valor do governo.

França: na França o governo adotou os chip-cards em virtude do aumento sem controle dos gastos com saúde. Os projetos Sesam Vitale 1 e 2 foram implementados, originalmente para seguro família e depois ampliados para toda a população.

Espanha: existe um piloto de cartão de seguro social em Cordoba com expansão para toda a Andaluzia, é um dos projetos mais interessantes do mundo pois permite, num mesmo cartão, seguro social, dinheiro eletrônico, transporte, comércio eletrônico e telefones públicos.

Dinheiro Eletrônico - A aplicação de chip-card como dinheiro eletrônico é uma das que mais impulsionam a tecnologia pois atingem uma quantidade muito alta e tem a possibilidade de multi-aplicações.

Transporte - Existem projetos em Seoul - Coréia, onde 42% das passagens de ônibus são feitas com o cartão sem contato. O projeto contempla a expansão para metrô com 390 estações. Em Hong Kong existe um sistema com 3 milhões de cartões sem contato e multi-aplicações previstas para telefone público, táxi e correio.

Identificação - Na identificação o chip-card torna-se um cartão para acesso à um edifício, escola, clube ou garantir que a pessoa que está acessando o terminal conectado à Internet seja a própria.

Existem projetos em 35 estados americanos e 8 canadenses para a padronização de uma carteira digital de habilitação. A África do Sul tem o intuito de criar um cartão de identificação para todos os sul-africanos. Outro exemplo é a Universidade de Edinburgh - Inglaterra - com um projeto de 26.000 cartões usados para identificação, controle de acesso e pagamento. Fidelidade - Alguns projetos usam o chip-card para guardar pontos cada vez que o consumidor adquire algum produto ou serviço e depois usar estes pontos como brindes ou descontos. Esta aplicação chama-se fidelidade e diversas empresas estão fazendo testes. Um projeto grande é o da rede de lojas Boots na Inglaterra.

Outros projetos fazem uso da associação de diversas empresas de ramos diferentes em um mesmo cartão com o uso dos pontos ganhos em qualquer uma das participantes por créditos nas outras empresas.

Aplicações de Chip-Card no Brasil -

No Brasil as aplicações existentes de chip-card são na maioria testes pilotos e algumas irão transformar-se em aplicações reais em 1999. Dentre estas aplicações podemos citar:

Dinheiro Eletrônico - Os sistemas funcionam com cartões pré-carregados com valor e máquinas ponto-de-venda em estabelecimentos comerciais.

Fidelidade - Exemplo no Brasil é um projeto que conta pontos quando se usa os serviços de uma das empresas participantes.

Transporte Coletivo - As aplicações em transporte coletivo geralmente viabilizam aplicações menores pois as mesmas fazem uso de grandes quantidades de cartões e algumas permitem multi-aplicações, dependendo do projeto do sistema.

Em São Paulo - SP está o maior projeto brasileiro e segundo maior do mundo na área, são 12.000 equipamentos de leitura do cartão instalado nos ônibus e 4 milhões de cartões; já foram adquiridos 600.000 cartões para estudantes. Em Goiânia - GO há um projeto com uso do cartão combi (cartão com contato e sem contato no mesmo plástico). Há também projetos em Fortaleza - CE e Salvador - BA.

Cartão Cidade - Alguns projetos acima mencionados para transporte também servem de base para projetos maiores baseados em cartões com aplicações múltiplas para controle de funcionalismo e dinheiro eletrônico. Como em Londrina-PR, por exemplo.

Saúde - As aplicações na área de saúde são as que mais tem volume no exterior mas geralmente são iniciadas via governo. No Brasil ainda não temos aplicações de grande porte nesta área. Existem estudos para o uso de cartão inteligente como prontuário eletrônico do paciente. Há um projeto piloto para pacientes na EPM - Escola Paulista de Medicina.

Vanderlei J. Corregio
vancorr@terra.com.br