Edições Antigas >> Edição n° 4 >> Matérias >> Ciência - Braille

Código é definido com qualquer conjunto de símbolos capaz de ser estruturado de maneira a ter significado para alguém. Existem vários tipos de código, como os códigos práticos, que são as sinalizações, os códigos auxiliares da Língua como a voz, os gestos, a postura e as expressões fisionômicas, e os códigos de apoio da Língua, como a linguagem de sinais ou o Braille.

O Braille é portanto um dos códigos de apoio da Língua, e sua importância reside no fato de habilitar o ser humano a compreender o mundo através de um sistema organizado de símbolos, substituindo o alfabeto convencional por um alfabeto de pontos em relevo, o que possibilita ao deficiente visual a escrita e a leitura.

As primeiras tentativas de criar um método de acesso à linguagem escrita aos cegos datam do século XVI e XVII. Entre eles estavam a gravação de letras e caracteres em madeira ou metal (usando parte da idéia da imprensa de Gutenberg), sistemas de nós em cordas, caracteres recortados em papel e até mesmo alfinetes de diversos tamanhos pregados em almofadas.

Até 1829, os portadores de deficiência visual aprendiam a ler através desses e de outros complicados métodos de leitura. Naquele ano um jovem francês de 15 anos cego desde os 3 anos de idade, chamado Luis Braille, desenvolve o sistema que é até hoje o mais efetivo recurso para a educação de cegos. Braille era aluno da escola Haüy, a primeira escola para cegos do mundo e foi influenciado por um método de transmissões de mensagens sigilosas criadas pelo oficial de exército francês Charles Barbier, que consistia na combinação de 12 pontos em relevo com valor fonético.

O Braille é composto por 6 pontos, que são agrupados em duas filas verticais com três pontos em cada fila (cela Braille). A combinação desses pontos forma 63 caracteres que simbolizam as letras do alfabeto convencional e suas variações como os acentos, a pontuação, os números, os símbolos matemáticos e químicos e até as notas musicais. Para os cegos poderem ler números ou partituras musicais, por exemplo, basta que se acrescente antes do sinal de 6 pontos um sinal de número ou de música.

O Braille antes do invento da máquina Braille, e ainda no Brasil por razões econômicas, era escrito com reglete e punção. Como isso é feito? Numa prancheta de madeira de 30x20 cm prende-se o papel e se encaixa a reglete, uma reguinha de metal com pequenos retângulos vazados (as celas) onde estão os pontos a serem impressos com o estilete chamado de punção (a caneta do cego). É um processo relativamente complicado, lento e trabalhoso, pois o texto deve ser escrito da direita para a esquerda e lido pelo verso, onde aparecem em relevo os pontos pressionados pelo punção.

Hoje em dia, além da máquina Braille (um tipo de máquina de escrever com apenas 6 teclas que formam pontos em alto relevo) que é produzida no Brasil na LARAMARA, já existem impressoras de Braille ligadas ao computador. Alguns programas podem "traduzir" as letras digitadas e marcar em relevo o papel.

Assim como a escrita convencional abriu um novo mundo para o homem comum, o Braille fez o mesmo para os portadores de deficiência visual. E mais, o Sistema Braille impulsionou uma revolução para os deficientes visuais, através dele as pessoas cegas podem resgatar sua cidadania, pois alfabetizando-se tem condições de estudar e estudando tem mais chances de conseguir emprego e ter um emprego significa estar socialmente incluído e ser independente. O mercado editorial aceitou rapidamente este novo método e hoje existem milhares de livros e material em Braille na maioria dos países. Mas será que são suficientes?

Hoje em dia são mais de 1,5 milhões de deficientes visuais, só no Brasil, beneficiados pela existência do Sistema Braille, imagine quantos não o serão pelo mundo inteiro?!

Com os avanços tecnológicos novas iniciativas vem sendo feitas utilizando esse Sistema. A Universidade de Purdue nos Estados Unidos, por exemplo, desenvolveu um programa de computador capaz de transformar imagens da Ciência e da Matemática em linguagem Braille. A impressão é feita em papel especial por meio de um equipamento que configura as imagens em relevo e usa caracteres da linguagem Braille. O arquivo tem cerca de 2,5 mil imagens especialmente redesenhadas para cegos ao longo de 4 anos de trabalho.

No Brasil a USP oferece aos deficientes visuais o Disque Braille, um serviço informatizado de apoio com informações de livros falados e em Braille. São mais de 1.600 títulos que podem ser obtidos pelo telefone (011) 3091-3433. As consultas podem ser feitas também na Faculdade de Educação da USP. Existem também escolas para deficientes visuais que utilizam o Braille, várias Associações que auxiliam os deficientes visuais de diversas maneiras, Congressos e Encontros tem sido organizados por todo o mundo, etc.

Portanto há iniciativas buscando integrar o deficiente visual da melhor forma à sociedade, tornando sua vida o mais próxima possível das ditas pessoas "normais", mas muito ainda resta a ser feito principalmente nos países em desenvolvimento, entre eles o Brasil e pode ser nosso trabalho ajudar nessas futuras realizações.

Claudia Boacnin